Gritos Mudos

03-11-2015 21:43

Ser “mãe e pai”...

Quantas de nós mulheres sabem o que isto é? Quantas já o viveram ou vivem na pele? Saber que nós e outro ser humano, depende unicamente de nós? Das nossas decisões, do nosso humor, das nossas atitudes, da nossa organização,… Do ter que, mesmo não sabendo se será o mais correto, tomar as decisões…Todas as decisões!!! Desde o que se vai vestir, o que se vai comer, a que horas deitar, para onde se deve ir… Tudo fica nas nossas mãos como se nós fossemos as donas da razão quando, não passamos de outro ser humano também cheio de dúvidas, de medos, sem manuais de instruções de como saber que estamos a tomar as direções certas, as decisões corretas… E como se não bastasse tudo isto, ainda temos de levar, por vezes, mesmo sem más intenções, com críticas, conversas, conselhos que por vezes em vez de nos ajudarem, só nos atormentam...

È o ter que gerir todas as horas do dia, da casa, da escola, do trabalho… Correr é a palavra. Tudo tem de obedecer um esquema, horários… Compras, limpezas, roupas, contas, tudo tem de estar orientado senão tudo descamba …

E o ser que é “mãe e pai” não tem direito a descambar. Por muita dor de cabeça que tenha, tem que aguentar, por muito cansado que esteja tem de fazer, por muita vontade que às vezes tenha de chorar porque a cabeça está cheia de problemas, evita o fazer para não preocupar, para que aparentemente esteja tudo bem…até, porque aquele ser por quem nós somos responsáveis não pediu ao mundo para vir, não tem culpa de nada…

No meio de tudo isto, lembramos, às vezes, que muito antes de sermos “mãe e pai”, somos mulheres. E aí, às vezes, complica ainda mais um bocadinho… Olhamos no espelho e tentamos lembrar quando foi a ultima vez que fizemos aquele ritual de limpar e pôr creme no rosto, que era impossível pensar em nos deitar-mos sem o fazer? Agora a prioridade na hora do ir deitar, é que esteja tudo organizado para o dia a seguir, que não apareça mais nada à frente para fazer pois mesmo que estejamos com insónias queremos é nos deitar e parar!

Abrimos a porta do roupeiro, as gavetas e tentamos rebuscar algo “recente” para vestir e aí lembramos que há muito não compramos nada para nós pois outros têm prioridade... O dinheiro não estica e quando para além de sermos “mãe e pai” temos de aprender a arte de esticar o dinheiro...

Sim, porque, por vezes, mesmo quando temos ajuda monetária de quem deveria, não por obrigação, mas por uma questão moral, ter vontade de… Esse alguém por vezes questiona o porquê do ter que o fazer, achando-se ainda que está a fazer um favor!!! Ah, e claro, ainda  existem outros cujo o tamanho do egoísmo, da frieza se acham no direito de pura e simplesmente, não ajudarem.

 Pensar em sair para, por exemplo, beber um copo com uma amiga, é para muitas de nós, missão impossível. E quando se torna possível muitas situações podem acontecer: ou se é atormentado com o remorso de se achar que se está a fazer algo de mal, ou somos daquelas de passar o tempo todo a olhar constantemente para o relógio, ou podemos ser do tipo sentirmo-nos desenquadradas do local, porque começamos a olhar para as outras mulheres e de repente vêm as paranoias em que todas as outras mulheres parecem bem mais giras, bem mais arranjadas, bem mais divertidas e nós só nos apetece fugir para casa por já acharmos que já não pertencemos aquele mundo… ou, ainda, há o ver muitas de nós a saírem como se valesse tudo menos passar despercebida, descambar fazendo figuras tristes e achar que se deve beber como se não houvesse amanhã, ou mesmo sem beber muito faz-se de conta que se bebeu para ter desculpa para as figuras tristes para, depois, muitas das vezes, acabar-se com a cara toda borrada a chorar no ombro da amiga deitando para fora tudo o que lhe vai na alma e que tem escondido com a frase “tá tudo bem”…

Muita coisa haveria a dizer do que é ser “mãe e pai”… Lembramos de quando nós eramos crianças e alguém tinha as preocupações, as decisões por nós… Em vez de cuidar, eramos cuidadas… Mas agora somos crescidas, mulheres, mães, mães e pais…

O silêncio de quem é “mãe e pai”, pode ser ensurdecedor, pois muitas vezes tem-se vontade de gritar mas ficamos pelo silêncio do “está tudo bem”…

Um dia deixaremos de fazer tanta falta, os filhos se tornaram independentes. Rezamos para que, quando essa altura chegar, nós possamos sentir que demos o nosso melhor, que tudo valeu a pena e desejamos que os nossos filhos tenham uma vida um pouco melhor sem que tenham que sentir o mundo às costas. Que possam ser homens e mulheres e que apenas tenham de assumir só um destes papeís…Ou o de pai ou o de mãe…

Nota: As imagens por mim escolhidas não são da minha autoria. Obrigada.